ARGILA SÍRIA

Fico imaginando a cena;  Dezenas de pessoas correndo, homens, mulheres, crianças, idosos, enfim, para onde se olhe, pessoas correm desesperadas sem saber exatamente para onde.
Explosões intensas são sentidas, daquelas que fazem o chão tremer a ponto de se perder o equilíbrio e cair.
Não se consegue então enxergar direito, pela poeira levantada e pelo crescente desespero que se sente ao ouvir os gritos de dor.  As pedras lançadas para todos os lados rebatem no corpo com violência causando lesões que não doem de imediato, mas nos fazem sentir que estamos feridos.
Aqui e ali, vultos de corpos estendidos pelo chão, alguns se contorcendo, outros já imóveis sepultados pela lama de pó e sangue.
Pensamos naqueles que nos são caros, filhos, pais, amigos, não importa. Nesse momento em que a princípio o instinto de sobrevivência clama atenção, forçosamente nos vem às imagens de nossos mais caros entes. A angústia de ter que decidir para onde ir, para onde correr, onde buscar refúgio se agora alguns uniformes começam a surgir por entre as nuvens de pó, sangue e dor.
Uniformes que poderiam ser o socorro, mas que nesse momento aparecem disparando aleatoriamente para todos os lados, em todas as direções, em todo ser humano que atravessa seu campo de visão.
Seus pais, seus filhos, seus amigos, todos sendo trucidados diante de seus olhos.  Aquele amargo na garganta por não ter qualquer arma para defendê-los, ou sequer vender a vida por qualquer preço desde que não seja de graça.

Ouvir sobre mais um massacre na Síria, passou a ser como ouvir sobre um atropelamento na cochinchina. Ninguém mais liga. As nações parecem não se importar, refletem apenas alguma ação em função de algum provável protesto de outras nações. Tudo já ficou demasiado comum, mundano, cansativamente repetitivo.

Duzentos...trezentos...seiscentos mortos???  Quem se importa de verdade?  Estão à quilômetros de distância daqui. Não podemos ouvir seus gritos, se ouvirmos, não vamos entender seu idioma, se entendermos, não nos interessa seus problemas e finalmente se interessar, o que podemos fazer?

Nesse meio tempo, o cidadão assustado, ferido, vendo os corpos à sua volta, pede para que lhe matem, implora para seu Deus que ao menos  poupem aqueles que lhe são caros, suas filhas pequenas, sua esposa, seus pais, enfim, todos os que lhe rodeiam e compartilham do mesmo sentimento de medo, angústia e ódio crescente.

Isso é tudo o que pode levar dessa vida que finda junto à mais uma poça de lama feita de sangue, pó, e...

...lágrimas!!!!!




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