ADRENALINA..! .MOVIMENTA OU PARALIZA

Assistindo o resgate daquela senhora por seus vizinhos no sobrado que a puxaram por uma corda de forma precária, me fez lembrar de como muitos seres se comportam diante de um perígo real, ou imaginário!
Nesse caso específico era real, e o desespero da atitude deixa à mostra os extremos a que chegamos quando o perigo se avizinha!

No final da década de 80, quando era operador de computadores da Dataprev em Campo Grande MS, me lembro de uma situação que a princípio não era tão terrível, mas que com o agravamento, e a imaginação sempre no sentido do pior, acabou gerando um estado de pânico quase generalizado, e confesso que nunca imaginei que o pânico pudesse ser tão contagioso, e difícil de controlar, além de se autocontrolar!
Estávamos no último andar de um prédio de cinco andares. Durante o dia, limpadores de vidraças havíam trabalhado no lado sul do prédio, e deixaram aquela corda enorme e grossa estendida de cima até em baixo do prédio, decerto para terminarem no dia seguinte, pois as nuvens que se aproximavam não deixavam dúvidas quanto às intenções metereológicas!

Estávamos em umas vinte pessoas, e o gerente, assim como a supervisora, já havíam saído!
Um fato interessante, é que os elevadores, não chegavam até o quinto, apenas até o quarto, sendo necessário subir pelas escadas até o último.
O horizonte ja começava a se tornar avermelhado e negro pela imensa quantidade de poeira levantada anunciando que os ventos seríam bem fortes, mas continuávamos trabalhando normalmente apesar de toda hora acompanhar visualmente aquela frente gigantesca se aproximando como uma enorme tsunami de ar em movimento!

Então houve o "baque"!  Forte, preciso, fazendo chacoalhar diversas divisórias internas denunciando entradas de ar por algum local que não as janelas, pois estavam já bem fechadas.
Logo em seguida chega aquela poeira, seguida de grossos pingos e um barulho realmente assustador!
Tive a impressão nítida de que o temporal "quebrou" justamente naquele ponto, e com toda a força.
Mas algo não estava normal, havía um barulho crescente e chegando a ser ensurdecedor do lado do prédio.
Achamos melhor desligar todos os equipamentos por causa das descargas, e o vento só aumentava.
Larguei meu computador, e corrí para ver o que estava acontecendo no sagão do quarto andar onde terminavam os elevadores, e assim que abrí a porta de divisória que dava para as escadas, sentí um baque fortíssimo de vento, e um som de vidros se quebrando que não dá para descrever.
A corda que deixaram pendurado do lado de fora das janelas, possuía muitos nós, e tinha um diâmetro grande, com a chuva se encharcou, e adquiriu peso, logo sendo chacoalhada pelo vento, começou a chicotear todas as vidraças daquele lado.
Os vidros simplesmente "explodíam" a cada chicotada, e eram arremessados à longa distancia ricocheteando do outro lado do saguão! Não havía possibilidade de descer para os elevadores daquele jeito!
Ficamos presos temporariamente no quinto andar!
O problema agora eram os vidros das divisórias que ficavam na parte de cima que ameaçavam estourar.
Voltei e fechei a porta sendo empurrado para dentro pelo vento com tanta força, que precisei da ajuda do ofice-boi para fechá-la!
Não dá pra saber se foi o vento, ou algum objeto que vinha voando, mas algo acertou uma das janelas da sala dos computadores, e o vidro estourou. Imediatamente as percianas viraram papel de ventilador, e aí todos tiveram a nítida impressão de que o prédio começou a tremer, ou balançar. Uma sensação terrível, e as moças, e mulheres, correram para o banheiro gritando histéricamente.
Eu estava tentando levar umas caixas de formulários bem pesadas para calçar a porta da divisória por onde havía entrado, mas tinha que correr muito, pois os vidros na parte de cima tremíam, e vibravam muito. Achei que iríam estourar a qualquer momento, completando a corrente fortíssima de ar dentro do setôr inteiro!
Com os gritos histéricos femininos, tudo parecia que iría mesmo desabar!  Aqueles gritos eram terríveis, e associados aos barulhos, junto com as impressões, realmente fazíam a adrenalina incendiar o corpo!
Não dá pra pensar, e o que vem na cabeça a gente faz, sendo certo, errado, ou qualquer loucura.  O importante era se manter consumindo a adrenalina!
O encarregado do setor ficou parado rindo para todo mundo, e achei que estivesse tendo algum tipo de reação estranha, já que ficava lá estático, e gargalhando. Não se mexía, apenas ria, ria, e ria muito!
Conseguimos eu e o boy colocar caixas suficientes para bloquear a porta, e impedir que a divisória continuasse vibrando, só que o coitado acabou escorregando no piso molhado, e caiu de mal jeito, destroncando o braço.
Como isso aconteceu bem na frente da porta do banheiro das mulheres, a gritaría só aumentou.
Juro que dava vontade de encher a cara delas de porrada. Qualquer situação de pânico como eu disse, contagía a gente. O temporal aumentou de intensidade, e agora eu sentia mesmo que o prédio balançava, parecia um terremoto, talvez pelas vibrações eu não sei, mas que sentía, eu sentía.
Não dava para falar, então a gente gritava o tempo todo, e isso ajudava a "criar um clima" de pânico, mas consegui chamar uma amiga que estava no banheiro!  Como fazia parte da CIPA, já tinha lhe mostrado onde existía uma segunda escadaría escondida lá no outro canto do prédio atravessando os fundos, e atrás de um monte de carteiras, mesas, e o cacete a quatro!
Quando ela lembrou, chamou todas as amigas "gritantes" e as levou até lá. Fiquei depois com medo de se jogarem por cima de tudo, e acabarem se machucando, mas foi tudo bem.
Bastou elas saírem, e o temporal da mesma forma que chegou, passou!  O encarregado começou a pegar suas coisas meio constrangido, o boy acompanhou as meninas na descida, e eu tratei logo de descer também!
Ficou tudo lá...bagunçado, e com a porta de acesso travada por um monte de caixas de formulários pesadíssimas.
Já na rua, cada um seguiu para sua casa, e eu pegando a moto fui para a minha, desviando de arvores caidas no meio da rua, fios, bocas de lobo abertas e soltando água, pedaços de telhas de zinco, e toda a sorte de porcarías que voaram por todos os lugares.
Mas não aguentei, e tive que dar uma paradinha para chorar!!!  Acho que é normal pelo menos pra mim que sempre depois de um momento muito tenso, tenho que por pra fora!

Tenho certeza de que aquelas pessoas que abraçaram aquela senhora, e ela também, fizeram o mesmo quando terminou. O caso deles foi de rísco total, mas apesar de não chegar nem perto da situação deles, uma experiência mesmo pequena como esta, dá pra se ter uma ligeira idéia do que muitos passaram nesses dias de chuva. Apenas uma ínfima idéia.

Só mesmo estando no lugar dessas pessoas para se ter uma avaliação mais conclusíva!

Que Deus abençõe todas elas, e que sejam tão fortes como demonstraram em suas atitudes desesperadas!

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