RODA-VIVA, OU RODA-VIDA?

Existem dias em que não estamos satisfeitos com nada! Dias esses em que as horas se arrastam metodicamente. Não concatenamos idéias ou firmamos pensamentos, apenas vagueamos entre um ou outro assunto.
Nada nos apetece enfim. Talvez o calor, ou a chuva repentina no final de tarde, ou até mesmo alguma pequena e inexpressíva palavra mal colocada que porventura tenhamos ouvido.
Nesse momento, o ideal é sair um pouco da roda. Parar no acostamento, e descer do carro para admirar a paisagem que sobrevive do outro lado em contraste com as loucuras ensandecídas de uma rodovía mortal e cruel.
Mas o som ensurdecedor do tráfego sempre encontra uma forma de não nos deixar entreter com a suavidade e a essência do espetáculo a poucos metros de nossa vísta.
Temos que literalmente abandonar o carro e caminhar em direção a paisagem marginal. Seguindo alguns bons metros então, deitamos no verde, e observamos o céu. Um vento sopra vindo do horizonte já nebuloso em que nuvens ameaçadoras se reúnem prenunciando um evidente temporal de verão.
Por mais que se queira o isolamento, esse mundo tão perto costuma ficar muito longe. A rodovía continua com seu apêlo de (volta pra cá).
O motor do carro ainda está quente, aliás, quentíssimo da loucura da viagem que não pode parar. A mensagem sempre clara da písta implorando pra sair da frente porque atrás vem gente causa aquela sensação de perda de um tempo precioso. Precioso pra quem?
Por acaso essa paisagem quase pintada de tão imóvel não possui também o seu próprio tempo? Todos esses reluzentes veículos metálicos não estarão mais cedo ou mais tarde fazendo parte de algum ponto estático em alguma outra paisagem também?
No céu as nuvens se apressam. O vento começa a esfriar, e acho melhor voltar para a insanidade novamente. Parece ser o mais normal, aquilo que realmente somos feitos, ou para "o que" somos feitos, nos insiste na presença, e os grilhões parecem se contorcer de ansiedade.
Afinal, navegar é preciso e viver não é preciso como dizía Cesar, sendo assim, nada mais natural do que deixar o romantísmo idiota de lado, e mergulhar outra vez no centro da roda. A vida é dinâmica, e gira em alta rotação. Qualquer sintoma estático com certeza nos impulsiona para fora dessa roda-vida, ou roda-viva, ou roda-qualquer coisa. Se estiver parado, serei arremessado para fora. Não tem jeito, é uma lei da física baseada no princípio da "inércia".
Volto para o carro, e acompanho o flash do primeiro raio assim que aciono a ignição.
Existem vícios demais nesse orbe, alguns louváveis, mas nem todos são virtuosos.

Comentários

  1. ''Existem vícios demais nesse orbe, alguns louváveis, mas nem todos são virtuosos.''
    É verdade meu caro Robson. É verdade!
    Por falar em virtudes e vícios, veja você o que me aconteceu durante os 10 dias de internação: PAREI DE FUMAR!!! Depois de 43 anos, finalmente, sem esforços descumunais e sem traumas larguei o cigarro.
    Nunca valeu tanto o dito popular: ''Há males que vem para o bem''
    Que seja assim,pois. Não é?

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